A crise habitacional se tornou um dos maiores desafios sociais e políticos da Espanha em 2025 — e a recente decisão do governo de ordenar que o Airbnb remova 66 mil anúncios de imóveis do seu site escancarou os efeitos da expansão dos aluguéis de curta duração em grandes cidades europeias.
A medida atinge diretamente propriedades localizadas em regiões como Madri e Barcelona, e representa uma resposta contundente às manifestações populares que vêm tomando as ruas contra a alta nos preços de moradia e a falta de acessibilidade habitacional. Mas o que está por trás dessa crise? E o que ela pode nos ensinar sobre o mercado imobiliário em outros países, como o Brasil?
Por que a Espanha agiu contra o Airbnb?
Segundo o governo espanhol, os anúncios removidos não estavam em conformidade com a legislação local: muitos não possuíam licenças, apresentavam informações falsas ou não deixavam claro se o imóvel era administrado por uma empresa ou pessoa física. A ofensiva faz parte de um plano mais amplo de enfrentamento à crise de moradia, que tem expulsado moradores locais das cidades e pressionado os preços muito acima do que os salários podem acompanhar.
Barcelona, por exemplo, já havia anunciado que vai eliminar todas as licenças de aluguel turístico até 2028, obrigando os proprietários a converterem os imóveis para locações de longo prazo ou vendê-los. A meta é clara: recuperar moradias acessíveis para a população residente.
O Airbnb responde: o problema é a falta de oferta
O Airbnb, por sua vez, contesta as medidas. Para a plataforma, o verdadeiro vilão é a escassez de imóveis disponíveis para moradia. Em nota, a empresa declarou que medidas restritivas como as adotadas em cidades como Amsterdã, Nova York e agora Barcelona não resolveram a crise habitacional, e ainda prejudicaram famílias que dependem da renda da locação e aumentaram os custos para viajantes.
“A solução é construir mais moradias — qualquer outra coisa é distração”, afirmou um porta-voz do Airbnb.
Uma tendência que afeta o mundo inteiro
O que está acontecendo na Espanha é apenas um retrato do que muitas cidades turísticas enfrentam ao redor do mundo. A combinação entre a popularização do turismo internacional e o crescimento das plataformas de aluguel por temporada fez com que muitos imóveis residenciais se transformassem em ativos para investimento, em vez de servir como moradia.
Além disso, a burocracia, os altos custos de construção e o enfraquecimento da habitação social agravam o cenário. Com menos imóveis disponíveis para aluguéis de longo prazo e salários estagnados, o resultado é um mercado inflacionado e excludente.
O que podemos aprender com essa crise?
A situação na Espanha levanta alertas importantes para o Brasil. Em cidades com grande fluxo turístico, como Rio de Janeiro, Salvador, Florianópolis e até mesmo Fortaleza, cresce o número de imóveis dedicados exclusivamente ao aluguel por temporada, o que pode limitar a oferta de locações tradicionais e impulsionar os preços.
Embora plataformas como o Airbnb ofereçam oportunidades de renda e movimentem a economia, a falta de regulação adequada pode aprofundar desigualdades e afetar diretamente o direito à moradia. O desafio está em equilibrar os interesses de proprietários, inquilinos, investidores e do mercado local, garantindo que o acesso à habitação não seja comprometido.
Conclusão
A decisão da Espanha de exigir a retirada de 66 mil anúncios do Airbnb é um marco na regulamentação global dos aluguéis de curta duração. Mais do que uma medida isolada, ela reflete um movimento crescente de cidades que buscam priorizar o bem-estar da população residente em vez da especulação imobiliária.
Para o Brasil, é hora de observar de perto essas transformações e se preparar para pensar em políticas públicas e estratégias de mercado que conciliem turismo, renda e moradia acessível. O futuro das cidades passa, inevitavelmente, pelo debate sobre para quem se constrói e para quem se aluga.
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