Para muitos brasileiros, um novo ano é sinônimo de mudança de hábitos. Mas para alguns pode ser também o momento para trocar de casa. No mês de janeiro, o mercado de locação de imóveis costuma ficar aquecido graças a estudantes que saem da casa dos pais para ficar mais perto de faculdades e às famílias que esperam o fim do ano letivo dos filhos para realizar a mudança. Carla e Renan Salgado, por exemplo, já haviam decidido, em março do ano passado, trocar o Rio de Janeiro pelo bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo. Mas só alugaram o apartamento a partir deste mês.
“Já queríamos nos mudar em 2017. Mas deixamos para janeiro por causa da Maria Eduarda (a filha do casal, de cinco anos)”, conta a representante comercial, de 29 anos. As aulas no novo colégio começarão dia 1º de fevereiro.
Para a menina ter alguns dias de adaptação, o casal chegou à São Paulo com duas semanas e meia de antecedência. Ginecologista e obstetra, o marido ainda está dividido entre Rio e São Paulo em função do trabalho. Quando terminar o período de gestação de suas últimas pacientes cariocas, ele fica em definitivo com a família na casa nova. “O importante era a mudança ser neste mês para não atrapalhar o ciclo escolar dela”, ressalva Salgado, de 30 anos.
De acordo com o diretor de Legislação do Inquilinato do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Jaques Bushatsky, o período escolar é o “grande balizador da locação residencial em cidades”. Além desse principal fator, ele também acredita que, no Brasil, existe também um movimento cultural que incentiva a troca de casa na virada do ano.
Panorama. Para além das necessidades de começo de ano, a opção por aluguéis cresce. De acordo com levantamento feito pelo Zap Imóveis, houve crescimento na busca por locação em detrimento da compra de casas e apartamentos. Com alta de 13% na procura por aluguéis entre janeiro e novembro de 2017, a fatia do segmento subiu para 45%. Segundo os dados do ZAP, os apartamentos são os mais buscados, com 72% da preferência, seguidos por casas (21%) e imóveis comerciais (6%).
Além de ser a principal opção das famílias com criança pequena, que desejam locais mais seguros em centros urbanos, os apartamentos também são a escolha de muitos estudantes. Para o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, os novos universitários ainda estão numa faixa etária em que sofrem a influência dos pais, que muitas vezes exigem a mudança para um apartamento em vez de uma república em um local maior e cujo imóvel seja compartilhado com muitos desconhecidos. “O estudante vai dividir o aluguel com dois ou três colegas, vai ficar barato e ele vai ter mais privacidade.”
Esse é justamente o caso de Tomás Takito, 17 anos, que está de mudança de Campinas para o bairro de Higienópolis, na Região Central de São Paulo. Ele vai morar com dois amigos em um apartamento de três quartos que fica próximo à Universidade Mackenzie, onde começará a cursar engenharia de produção. Eles devem se mudar para a nova casa nesta semana, pois as aulas já começam a partir da próxima quarta-feira, dia 31.
“Queríamos ficar em Higienópolis mesmo pela facilidade de chegar à faculdade. E como terei aulas em período integral, vou poder almoçar em casa também”, conta Takito. Depois de visitar oito apartamentos, os amigos encontraram o imóvel dentro do perfil que procuravam. “Cada um queria ficar com o próprio quarto. Por isso, alugamos esse com três – e por um preço bom”, conta.
Mercado. CEO da Vitacon, que aluga imóveis pequenos, de 10 m² a 35 m² em empreendimentos próprios, Alexandre Frankel afirma que a percepção de pico de demanda, em janeiro, se confirma em função do início do ano letivo. Segundo o executivo, os estudantes ajudam a dinamizar o negócio no início de ano por falta de demanda do público corporativo, que só passa a alugar a partir de março. “Além de preencher a lacuna em janeiro, o estudante faz um contrato de longa permanência, tornando-se uma renda estável”, analisa Frankel
A Vitacon possui quatro prédios próximos a faculdades em São Paulo: na Vila Mariana, Paraíso, Vila Olímpia e Higienópolis. Todos os apartamentos são compactos com o objetivo de atingir o público corporativo – que procura por locação ao longo de todo o ano – e o estudantil, cuja demanda maior se dá em janeiro e julho. “Pensando nos universitários, temos centros de estudos e espaços coletivos nesses empreendimentos.”
Casal encontra rapidamente imóvel para alugar na capital
O casal Felipe Azambuja e Beatriz Fraga decidiu que era hora de morar juntos no início deste ano. Em pouco mais de uma semana de busca, eles já estavam de casa nova, um apartamento na rua Bela Cintra que se adequava às necessidades de ambos: próximo do trabalho e com espaço suficiente para que eles pudessem viver com conforto.
A escolha do casal, de mudar em janeiro, segue uma linha histórica já detectada pelo mercado imobiliário e que não parece ter sido afetada pela crise econômica. “É um mês em que todo mundo quer promover mudanças na vida. Então, as pessoas preferem se mudar em janeiro”, diz Roseli Hernandes, diretora de locação da Lello Imóveis.
Com quase quatro anos de namoro, Azambuja morava na Vila Madalena e Beatriz alugava um apartamento na Bela Vista. Segundo o publicitário, a decisão foi planejada, apesar de ser executada rapidamente. “Nós dois queríamos sair dos nossos apartamentos, mas se não tivéssemos encontrado, iríamos esperar”, analisa.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, o aquecimento do mercado nesta época do ano é algo tradicional. “Esse momento é quando as famílias fazem alteração de endereço por ser oportuno, principalmente após as festas”.
Durante o processo de escolha do novo imóvel, o que Azambuja percebeu foi que o casal estava enganado em relação à margem de preço dos alugueis. “Quando eu comecei a procurar, me assustei. Achei que estava um pouco acima do que esperava”, admite. Ele e a namorada acabaram por escolher um apartamento um pouco mais caro do que haviam planejado inicialmente, mas que tinha vantagens: a conservação do prédio e a localização do imóvel. “Não achamos o apartamento perfeito pelo preço, mas achamos um legal e que valia a pena pagar por ele”, afirma o publicitário.
Segundo a diretora da Lello, as ofertas, nesta época do ano, não têm aumento no aluguel. “Temos um número de imóveis disponíveis bastante acentuado e oferta grande. Isso faz com que os preços fiquem estabilizados, os proprietários não conseguem aumentar”, analisa. O comportamento de preços experimentado no ano passado ajuda a entender o comportamento atual de preços – de acordo com levantamento feito pelo Sindicato da Habitação (Secovi-SP), o aumento do preço do aluguel registrado em janeiro de 2017 foi de 0,9% em relação ao mês anterior.
Dificuldade. E para quem está buscando alugar um imóvel em São Paulo, o publicitário faz um alerta entre a qualidade e o preço das ofertas disponíveis. “Achamos muito apartamento antigo cobrando um aluguel muito caro, isso acaba até afastando um pouco a gente. Não é atrativo dentro do prédio”. O presidente do Creci-SP afirma que esse tipo de imóvel demora mais para ser alugado. “Há uma diferença de interessados na procura”, afirma José Augusto Viana Neto.
Uso de fiador ainda é a garantia mais usada em locações
Proprietários de imóveis invariavelmente precisam de garantias financeiras ao alugar casas e apartamentos. Dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP) mostram que entre janeiro e novembro do ano passado a garantia mais utilizada em contratos de locação foi o fiador, com 42,18% dos acordos celebrados na capital paulista. Os valores de dezembro ainda não terminaram de ser computados pelo conselho dos corretores.
Em segundo lugar aparece a opção pelo depósito bancário, com 31,48%, seguido pelo seguro-fiança (17,52%). Já a preferência pelo caução de imóveis ou cessão fiduciária foi pouco considerada na celebração dos contratos do ano passado (6,36% e 1,55%, respectivamente). De certo mesmo apenas que é basicamente descartada pelo mercado a opção de não se usar nenhuma garantia – apenas 0,9% dos proprietários correram o risco de não colocar garantias em caso de inadimplência do inquilino durante o aluguel.
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