Produtos têm bom apelo de vendas, dizem incorporadoras. Conheça os projetos mais recentes, que incluem até helicóptero para os futuros moradores
A economia compartilhada ganha expressões cada vez mais inusitadas no mercado imobiliário. Com o objetivo de oferecer serviços com baixo custo operacional e bom apelo de venda, incorporadoras vêm abusando do conceito “share” nas áreas comuns de edifícios com unidades compactas, que hoje oferecem até apartamentos compartilhados. Algumas empresas vendem propriedades fracionadas e outras investem em itens curiosos como helicópteros “coletivos”.
A Gafisa aposta nessa ideia em lançamentos com foco em investidores. O Smart Santa Cecília, lançado em setembro no Centro de São Paulo e apresentado como um “Home&Share”, terá um aplicativo de smartphones que possibilitará aos moradores organizar o uso dos itens compartilhados. O condomínio, com studios e imóveis de um e dois dormitórios, terá três carros, dez bicicletas, duas bicicletas elétricas para uso coletivo, espaço de coworking, além de uma unidade mobiliada disponível para aluguel temporário – num mecanismo semelhante ao adotado em salões de festas.
“Os moradores podem fazer reservas pelo aplicativo, que funciona como uma rede social fechada. É possível mandar avisos para a portaria, fazer anúncios e entrar em contato com os vizinhos. E o morador pode verificar se um dos vizinhos tem interesse em dividir os serviços de um professor de inglês”, exemplifica Octávio Noronha, gerente de Negócios da companhia, que já replicou o conceito em outros projetos paulistanos, caso do Smart Vila Madalena e do Vision Capote Valente, esperando elevar a velocidade de vendas das unidades. No residencial de Santa Cecília, a empresa não divulgou o desempenho comercial do produto, com imóveis partindo de R$ 198 mil, mas o executivo disse ter verificado bastante aceitação dos clientes.
Do ponto de vista jurídico, Noronha explica que a Gafisa descreve os serviços pay per use no memorial de incorporação e na minuta da convenção dos condomínios – onde são regrados, por exemplo, como será o fornecimento de bicicletas ou carros compartilhados -, mas detalhamentos como preços e regras cotidianas de utilização são deixados para depois da implantação. Na fase de uso, não existem problemas operacionais, segundo ele. “Os espaços compartilhados serão geridos pelo condomínio, e os serviços em geral não têm muita complexidade, são pay per use ou terceirizados. Apenas fomentamos que os proprietários pratiquem o compartilhamento.”
Alta renda
O conceito “share” tem aderência maior em unidades compactas voltadas para as classes média e média alta. Porém, com as devidas adaptações, se encaixa em qualquer perfil, segundo os especialistas. Vários serviços, como o de limpeza de unidades, e espaços, caso de lavanderias e escritórios, já são comuns hoje em empreendimentos com imóveis compactos.
O compartilhamento é uma das bandeiras da Vitacon, incorporadora focada em investidores desde a fundação da empresa. Em 2009, ela já incluía nos seus projetos carro, bicicleta, lavanderia e áreas de trabalho compartilhadas. Foi evoluindo neste conceito, conforme a demanda, e hoje também oferece motos “coletivas”, serviços de limpeza nos apartamentos, salas de jantar e ferramentas de uso esporádico, como furadeira, serrote, martelo e escada. Além disso, recentemente um apartamento mobiliado semelhante ao oferecido no residencial da Gafisa foi incluído no portfólio “share” da empresa.
“Temos parceiros que provêm os serviços. Selecionamos, homologamos e administramos de perto. Nunca tivemos problemas”, aponta o presidente da Vitacon, Alexandre Lafer Frankel. Ele conta que, nos empreendimentos em operação, o conceito foi muito bem recebido pelos usuários e que a convivência gerou inclusive resultados inesperados, como networking entre os moradores. “Acreditamos bastante no conceito de as pessoas não possuírem (as coisas), mas utilizarem, sem necessariamente comprá-las. É um diferencial para o empreendimento que as pessoas vão valorizar cada vez mais.”
Helicóptero
Com 90% de suas obras concluídas, o empreendimento de segunda residência Condomínio Alto da Serra, em Bom Jardim da Serra (SC), apostou no conceito “share”, com uma visão criativa e focada em mobilidade. Em abril, adquiriu um helicóptero, que foi dividido em 30 cotas, das quais 23 foram vendidas até o início de outubro. O empreendimento possui 160 proprietários de um total de 226 lotes e, segundo Fernando Weber, diretor da Weber Empreendimentos, responsável pelo projeto, a ideia foi bem recebida. A cota é vendida por R$ 75 mil, sendo 20% de entrada e o restante parcelado em 100 vezes. O proprietário paga R$ 835 mensais, custo com todas as despesas fixas, e mais R$ 870 por hora de voo. A cota não impõe um limite de uso, mas prevê uma preferência de duas horas de voo por mês.
A administração é feita por uma empresa especializada em aeronaves compartilhadas, a Atmos. Weber diz que não obteve lucro no serviço, já que seu objetivo único é de valorizar o empreendimento, com terrenos de até 6 mil m2 e preços variando de R$ 200 mil a R$ 600 mil. “As vendas e a procura aumentaram bastante. Lançamos em abril e, nesse período, vendemos mais do que o dobro do ano passado todo, além de o empreendimento ter valorizado 15% desde abril” – o empresário pretende adquirir mais duas aeronaves e replicar o modelo em seus outros projetos na região. Apostando ainda mais na ideia de compartilhamento, destinou ainda 10% dos imóveis do condomínio Alto da Serra para serem vendidos em frações.
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