Com a intenção de se criar cidades saudáveis e mais eficientes, não apenas energeticamente, mas, principalmente, mais conscientes no consumo de bens e serviços, surgiu o conceito de cidades inteligentes. “A inteligência das cidades se tornou algo mais do que um conceito ou uma simples tendência. É algo palpável e necessário para possibilitar plataformas que transmitam transparência política e acessibilidade em todos os níveis, desde a mobilidade física e virtual, até as questões de educação, saúde e moradia”, argumenta a arquiteta e urbanista Lissa Motta de Albuquerque, Assessora Especial de Planejamento Urbano do município de Maracanaú.

Atualmente, a profissional também é responsável por coordenar a implantação de programas e projetos de infraestrutura urbana junto a instituições financeiras internacionais e organismos multilaterais. Lissa Motta de Albuquerque conversou com o Caderno Imóveis em entrevista exclusiva sobre essa temática.

Caderno Imóveis: O que configura uma cidade inteligente?

Lissa Motta: As cidades nada mais são que um palco para que a vida aconteça. Uma cidade passa a ser “inteligente” à medida que se implantam projetos que se adaptem às tendências da sociedade e necessariamente criam oportunidades. São cidades naturalmente acessíveis em relação a condições de habitabilidade para todas as classes sociais (mobilidade, moradia adequada, saúde, educação digital, entre outros). Estamos vivenciando mudanças de hábitos de consumo, impulsionadas por várias gerações. Percebemos isso por meio da economia compartilhada. A “posse” foi substituída pelo “acesso”. Aplicativos de mobilidade em diferentes modais (bicicletas, carros), caronas compartilhadas, opções para hospedagem, e diversos outros, criam oportunidades com ofertas de acesso a essa cidade. Nesse sentido, as cidades precisam ser compartilhadas.

Quais são os benefícios das cidades inteligentes?

O tempo pessoal é algo que considero ser o maior benefício proporcionado pelas cidades inteligentes. Isso impacta positivamente na economia local, na saúde pública e na segurança, uma vez que as pessoas passam a ter mais oportunidades de fazerem coisas que lhes proporcionem mais prazer e satisfação pessoal.

Que experiências exitosas você destaca?

Porto, em Portugal, tem uma qualidade tanto de empresas como de universidades que demonstra sua capacidade. Antes de ter o título, as cidades, principalmente as brasileiras, precisam de atitudes inteligentes. Cito exemplos já bem conhecidos como os de Bogotá, na Colômbia, com iniciativas de implantação do Transmilênio, ou o sistema de transporte público de Curitiba, exportado como modelo para vários locais. Atualmente, Songdo, na Coreia do Sul, referência em planejamento urbano, é um exemplo de aerotrópole, cidade planejada que cresce em torno de um aeroporto. Foi classificada pelo jornal britânico The Guardian como a primeira cidade inteligente do mundo. Lá, sensores subterrâneos detectam as condições de tráfego e, se necessário, reprogramam os semáforos. Foram projetados 25 km de ciclovias e um sistema pneumático de gestão de resíduos, praticamente eliminando a necessidade de coleta de lixo.

Mesmo nas cidades inteligentes, qual é a importância da participação dos moradores?

Qualquer cidade, seja ela qual for, independente da cultura, dos hábitos, das circunstâncias climáticas, políticas ou econômicas, não serão saudáveis e humanas se não tiverem a constante participação dos seus indivíduos, sem o constante questionamento ou a crítica produtiva para que estejam em constante transformação. A primeira questão que permeia um projeto de cidade inteligente é: a quem pertence a cidade inteligente? É inteligente projetar ou produzir áreas que corroborem com distribuição direcionada de espaço urbano? E a consciência ambiental? O que adianta modernizar a coleta de lixo se continuamos a produzi-lo em escala desproporcional ao que se consegue gerenciar em nossa geração?

SAIBA MAIS

O conceito
Uma cidade inteligente utiliza a Tecnologia de Informação para resolver problemas sociais, econômicos e ambientais, com o objetivo de gerar bem-estar social e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. André Gomyde, Presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, diz que o envolvimento das pessoas é essencial nesses processos junto com a prefeitura. “A gente usa a tecnologia não só para colocar equipamentos na cidade que possam melhorar a vida, mas que as pessoas, por meio do seu celular, do seu computador, possam estar em contato direto com a prefeitura constantemente, ajudando-a a entender os problemas da cidade e a resolvê-los da melhor maneira possível”, declara.

Ele sinaliza que a boa gestão faz parte das cidades inteligentes. “Quando você faz um planejamento de longo prazo e coloca uma gestão adequada na cidade, esse é o caminho para transformar, muito mais do que dinheiro”, opina. Ele afirma que o conceito de cidades inteligentes evoluiu para o que se chama de cidades inteligentes e humanas, em que a cidade proporciona uma melhor qualidade de vida para a população.

A infraestrutura básica para uma cidade inteligente é um parque de iluminação inteligente, também chamado de smart grid. “Ele forma uma rede inteligente, porque cada luminária ou poste tem sensores que se conectam um ao outro, transmitindo dados de um ponto a outro, por toda a cidade”, descreve André Gomyde. “Com isso, podemos ter uma internet de alta velocidade, disponível para todos, por Wifi”, completa.